E a gente que estava juntos, deitados, numa noite dessas,
vendo o filme dos Irmãos, na plena intimidade que se espalhava pelos corpos,
protegidos da rua, da noite, do mundo, na falsa proteção de nós, expondo o melhor e o pior um do outro, no paraíso do
apartamento, no detalhe de uma conversa fútil e profunda , de insights e sorrisos.
E de uma hora para hora, num corte seco do tempo, temos a capacidade de fingir
a não intimidade de forma excepcional. O paraíso se torna o inferninho da
multidão, numa noite fria de encontros, nos deparamos com nossos olhos que não
olham nos olhos e comentamos superficialmente sobre tudo o que não sabemos
fazer, para mostrar qualquer espécie de educação em meio a mutilação da
civilidade : Oi! Oi!
(tempo, olhos não nos olhos) Cheguei agora. Legal. Eu já tô aqui há um tempo. (tempo,
olhos não nos olhos) Bom, vou lá. Aniversário... Tchau. E a saída forçada
de cena, tentando eliminar a memória recente de um lugar sólido, desmanchado no
ar. Somos seres infelizmente aptos a ir contra a natureza, a ir fingir o
conforto no desconforto, a acreditar que nunca fomos íntimos, nos apoiando na
ideia realista de que nunca mais seremos. Mas o
que alivia é que a memória não é tão desapegada
da alma, e nos faz ser quem somos. Olhar para frente, sendo tudo o que
perdemos. E eu, que sempre observarei as ansiedades de corações vazio perdidos
na noite, e de vez em quando, serei um coração perdido vazio na noite em busca
de sorrisos e olhares cúmplices, vou sempre voltar para a casa com a sensação
de aquele musical que passava na madrugada do canal tal, é a esperança dos sonhos. Durmo com a imagem mais linda
de três coisas que fazem da fantasia a
melhor realidade e o sofá quentinho o melhor point da noite: Bom dia na madrugada chuvosa, dança transgredindo um
apartamento, e a paixão de três amigos e dois amantes.
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