sábado, 12 de fevereiro de 2022

Conflito irreconciliável



Você quer espaçar o fluxo

E eu só queria te dar as mãos na multidão.

Mas se isso fosse só…

Não estaria escrevendo isso com um espaço tão grande, que inibiu o fluxo…


terça-feira, 11 de maio de 2021

amantes do de vez em quando

 

aprendi a amar na hora marcada

sendo inteira em cada segundo

e quando você vai embora

é como se nunca tivesse vindo

mas o momento intenso e sereno

não partem contigo

ficam guardados comigo

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Só a Lua


“Tudo bem.”


Ouvi de uma voz sem rosto. “Tudo bem”.


Vi meu pai, o sério, gargalhando com chapéu pirata, abraçando um desconhecido.


Vi minha mãe, a fechada, girando com uma saia rodada, com jeito de menina mais nova que eu.


Vi minha tia, a religiosa, com um copo do líquido proibido na mão, batendo os pés no chão como um tambor ritmado.


Vi meu primo, o médico tímido, berrar por toda parte feito o louco que um dia ele mesmo internou. 


 Vi toda minha vizinhança de olhos arregalados e vermelhos, com dentes grandes para fora. 


Mas não vi o rosto que me disse “tudo bem.”


Lembro da voz. Grave e delicada.  Direta e acolhedora.


A bola branca  da lua ocupava todo a dimensão da minha pequena cidade.


A lua cheia faz o sangue dançar. Isso ninguém me disse. Mas eu sei.



Daqui a pouco ele iria aparecer.


Ele, o grande, o único, o mais esperado dos segundos, minutos, horas, dias, meses. O sentido de muitas vidas. Alguns fingiam que não, eu tinha certeza que sim.


Meu primo, meu pai, minha mãe, minha tia o  chamavam : “vem, vem, vem, vem!”


O coro aumentava na multidão: “Vem, vem, vem, vem”


Onde eu queria estar agora? No meio do meu silêncio. Por quê? Pode? A resposta foi imediata. 


Alguém puxou minha mão, me levou para o meu da rua e disse: olhe! Eu olhei.

Os olhos debaixo dos grandes chifres, o manto colorido. O vaqueiro embriagado. 


A música tocava alto, mas não tão alto quanto a batida do meu coração. Meu corpo tremia. Chorei. Mas ninguém viu. Só a lua.


A noite do boi era a única no ano em que a palavra brincar era um verbo no imperativo. “Anda, menino,  brinque!” E era a única no ano em que para mim o verbo era um martírio. Olhava para ele tentando explicar: “ Eu sou daqui, mas  também não sou! Entende?”   


Não. 


Olhei para os lados em pânico. O pai, a mãe, a tia, o primo estavam tão perto, mas tão longe. Se eu estourasse o meu silêncio, ficaria desamparado. Mas não conseguia mais me controlar. Até que ... 


“Tudo bem.”  


Suspensão.


Haveria uma fresta de luz no meio da minha escuridão aglomerada?


De quem seria essa voz. Seria ela propriedade de alguém?


“Tudo bem, você pode, tudo bem.” 


 Lembrei que eu era criança. Virei o melhor ninja do mundo. Choque cultural. Me afastei sorrateiramente. Minha missão deu certo. De onde vinha essa voz?


Não importa. Eu sou daqui, mas também não sou. Entende?


Ninguém mais me viu. Só a lua.

domingo, 31 de maio de 2020

Entrega

 Eu não posso te dar o que eu não sou
Eu não sou quem você quer ganhar
Eu só tenho para dar o meu amor
Mas talvez esse amor, você não queira amar

Eu não sou o seu ideal
Eu sou a flor imperfeita de mulher
Eu dou tudo o que me é real
Mesmo quando dou o que você não quer.



sábado, 9 de junho de 2018

AGORA SOU MÃE parte I

Demorei muito para falar sobre isso, mais especificamente 11 meses e 5 dias.
Sim, 11 meses e cinco dias de vida do baby Gael, meu filho. Nesse tempo, muita coisa aconteceu, mas muita mesmo! Gael nasceu no dia que fui visitar o mar já com a bolsa estourada, mas sem perceber que estava estourada. Eu não havia entrado em trabalho de parto e tinha a ideia que quando estourasse a bolsa viria uma enxurrada de água que seria impossível não reconhecer. Não foi assim, veio um pouco de água que confundi com uma secreção normal desse período de gestação. A bolsa já havia estourado na noite anterior e eu fui ver o mar na tarde seguinte. Eu precisava ver aquele movimento das ondas, o céu, as gaivotas, eu precisava falar com o baby dentro de mim. Sabia no fundo que estava prestes a entrar numa grande mudança de vida e estava desamparada por dentro.

Era como uma passagem. Muito forte e eterna. Eu já fiz muita coisa na vida. E já fui muitas coisas. Algumas passageiras, outras nem tanto, mas o que aliviava era o fato que tudo podia mudar com o tempo. Agora não. Tem uma coisa que não vai mudar, que vai ser eterna e eu demorei para entender. Eu sou mãe. Eu sou mãe.  Isso não vai mais mudar. Eu entendi que não estava preparada pra essa permanência. 

No dia que soube que estava grávida de um namorado de três meses, eu entrei em pânico. A primeira coisa que pensei: Não quero ser mãe solteira! Logo fui falar com ele que me acalmou e me disse pela primeira vez: eu te amo, vai dar tudo certo. Ali eu não me senti mais sozinha, nem solteira. Me emocionei com suas palavras e vi um parceiro ao meu lado. Ele ficou chocado também, mas disfarçou melhor que eu. A gente ficou um bom tempo em silencio, cada um fazendo um milhão de conjecturas e a principal era: será que vamos ter?

O tempo foi passando e a gente não consegui decidir. Minha vida virou uma matemática: o que acontece se eu tiver, o que acontece se eu não tiver? qualquer decisão seria uma escolha sem volta. não era decidir se ia comprar alho ou mudar de casa. Era uma decisão  eterna. E  nada leve. Eu chorava todos os dias. As contas, as conjecturas, o " se"  me atormentava. 

Sempre fui muito livre. Saí de casa aos 21 anos para  morar sozinha e nunca mas voltei. Conforme minha vida profissional me possibilitava uma renda mais confortável, gastava todo meu dinheiro com viagens, para mim o maior investimento que podemos fazer. Um bem pessoal que vem do coração.  Viajar me ajuda a ser pássaro. E worlkaholic. Meu trabalho e a vida pessoal é a mesma coisa e não me vejo  um sem o outro. Como nunca havia tido um relacionamento tão  longo , eu não pensava na possibilidade de ser mãe. Pensava na possibilidade de adotar, caso não tivesse um filho dentro do tempo do relógio biológico.

Após muitos sonhos, conversas, choros, um medo tremendo de qualquer decisão, afinal como eu  poderia ser responsável pela vida de uma pessoa?  Dizem que se você não consegue cuidar nem de um plantinha, não está preparado para cuidar de alguém. Eu nunca tive plantinha por muito tempo. Eu sou esquecida, no início eu rego muito, mas minha vida corrida me faz esquecer as vezes de regar.

 Tive uma sessão de terapia corporal . . O corpo queria, e eu fiquei feliz com isso. No fundo eu sabia. Sim, eu sabia!



****
É um sentimento rasgar os limites da compreensão. Eu não sou mais uma só, somos dois e por mais que eu tente não ser dois, porque ser dois dói o dobro de ser um ,não,  eu não sou mais uma só. Não há nada que me deixe mais tranquila que estar ao lado dele sabendo que ele esta bem.  então dói, mas também é bom, é inexplicavelmente bom. Entendi o que é amar incondicionalmente. 

**** 

Eu vou parar essa história por aqui. ela começou cedo demais, lá longe, e se eu colocar tudo , eu nunca vou postar. meu blog ta parado, então, nem sei se alguém vai ler, mas... deixa dizer o que importa agora. acabei de ir ao cinema. Sozinha. é a coisa que mais tenho gostado de fazer: sair sozinha. Ir comer, caminhar na rua. O cinema é o auge.  Compro  a pipoca, a coca zero e viro rainha na sal escura. Não tenho tido vontade de festa, de tumulto, de conhecer alguém, eu tenho tido vontade de sair só, comprar uma pipoca, uma coca e ser rainha na sala escura. Estou me repetindo. Preciso dormir. Vou postar esse bloco. Pretendo continuar. preciso escrever algo assim agora, para me fazer entender, quem sabe em algum futuro. E compartilhar essas palavras, quem sabe , para algumas pessoas que...


Ah, esqueci de contar que antes de ir para o hospital ter Gael, comi um belo de um hambúrguer com batata frita. ainda ganhamos (eu e o futuro pai)  um ketchup de goiaba. Nunca experimentei, não gosto de goiaba. Mas a menina da loja foi simpática. Apesar de achar que ela poderia ter um pouco de bom senso e deixar um casal mega grávido comer em paz. Guardei esse pensamento para mim, mas tenho certeza que minha ansiedade a fez perceber. 

Obs 2: hoje brinquei com Gael o dia inteiro. Ele ama esconder e achar. e ele ta muito esperto. uma hora fui na rua . ele ficou com a minha ajudante. era para ir na padaria, farmácia e fazer compras. entre a farmácia e o mercado, lembrei de sua gargalhada e seus dois dentinhos aparecendo na parte de baixo da boca. Sorri no meio da rua. soltei um som de alegria. Corri para casa. Não fui ao mercado. meu coração dispara. eu não só amo o Gael, eu estou apaixonada por ele. Entro e ele corre para mim. Mamamama...  e a gente vota a brincar de achar e esconder. 





domingo, 4 de fevereiro de 2018


Não subestimes minhas lágrimas
Elas nunca caem à toa
Elas vazam quando os olhos, a fortaleza da alma, fragilizam
Viram os cristais mais límpidos e raros.

Não subestime meu coração
Ele bate abertamente
Te amou sem prestar atenção no chão.
Te desejou sem pensar no futuro.

Não subestime meus sentimentos.
São pedras na forma bruta tentando vestir a máscara de proteção.
São a solidão quando cai a noite e a coragem quando levanta o dia.
Se escondem por trás de um sorriso, se revelam na frente dele.

É incrível como o roteiro perfeito se desfaz rapidamente
Os planejamentos são metáfora de um sossego inexistente
Me apego no sorriso mais lindo que a vida me presenteou
Sou a mulher-deusa, humana e imperfeita

E que assim seja
E que assim cresça
Que assim permaneça

E prevaleça.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

o lugar

Aonde moram as respostas?
No tempo certo.
Aonde mora o tempo certo?
Nas suas respirações

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Luz


Tudo bem
Podemos avançar
Através desse ser
Que surgiu de um real desejo
Chegou para iluminar
E só por ser, ensinar 

A mim e a você

Hamlet

Eu tinha a Fatinha. Sim, eu tinha, tinha, a Fatinha. E ela tinha a mim. O que mais me lembra na Fatinha, eram os olhos, como brilhavam. Eu a chamava: Fatinha dos olhos que brilham. E eram meio puxados, os olhos. Ela também vivia sorrindo. Eu era apaixonado pela energia dela. Eu era apaixonado por ela. A Fatinha morava com a família num apartamento bem pequeno do meu prédio. Um apartamento desses de sufocar a alma. E por isso ela vivia o tempo todo fora de casa, olhando o céu. Respirando profundamente. Para mim ela aliviava o coração. A gente se encontrava depois da escola e ficava no alto de uma pequena colina na margem do fim da cidade, vendo o entardecer. Na nossa cidade, o por do sol era o mais bonito do mundo. E olha que o mundo é grande. Cada instante ele nos surpreendia mais. Era a melhor hora do dia. Era a hora que a gente compartilhava sonhos.  A Fatinha queria ser astronauta. Para ficar mais perto das estrelas, morar no céu e respirar direito. Eu queria ser médico para cuidar da Fatinha caso ela precisasse de alguma coisa e tivesse que descer do céu. A gente foi crescendo e a Fatinha foi deixando de olhar para o céu, de olhar para o por do sol, para mim. De olhar. Aí, do nada, ela me disse que desistiu de ser astronauta. Eu não entendia. “Por que, Fatinha?” E ela respondia: “Olha para mim! eu não posso! Eu não devo!”. “Por que, Fatinha?” ”Olha para mim ! Eu não posso! Eu não devo!”  “Eu não posso, eu não devo.” (pausa) Ela casou com o Antônio, o filho do coronel. A festa foi na hora do por do sol, num imenso jardim florido. Eu estava lá. Ela me convidou . Mas não olhou para o céu, nem para o sol. Nem para mim. Não olhou. Ela foi morar na maior casa da cidade, que ficava na maior fazenda da região. Eu achava que ela era muito feliz agora que tinha todo o espaço do mundo. E olha que o mundo é grande. Um dia, eu soube que Fatinha se matou. Se enforcou na corda do banheiro do chuveiro. Fatinha, a menina do sorriso mais lindo e dos olhos brilhantes, se matou com a  corda do chuveiro do banheiro da maior fazendo da região, em meio a todo espaço do mundo. E olha que. E eu... Eu já tinha desistido de ser médico. E eu... E eu ...

E eu odeio levar choques. Eu odeio levar choques, eles me estrangulam, eu sinto a garganta se fechar, eu ouço os órgãos do meu corpo mexerem. Eu não suporto mais levar choques. Eu não sei quando eles começaram e porque começaram. A cidade é pequena, eu conheço quase todo mundo e ninguém me conta, ninguém me responde, como é que foi que eles começaram. Eu lembro da minha mãe. Ela tinha um aquário e eu ajudava a cuidar dos peixes. Me lembro que ela me alertava para o choque e um dia eu levei choque no aquário que tinha uma corrente elétrica. Acho que foi ali que começou a minha vida de choques. Eu não me lembro mais o que aconteceu. Até hoje eu... Até hoje eu...

Até hoje eu olho para o céu e converso com ela. A Fatinha. Como se ela tivesse virado astronauta e tivesse entre as estrelas acenando para mim. Um dia ela vai descer e eu poderei cuidar dela, como combinamos. Fatinha está lá, sorrindo no por do sol mais bonito do mundo. E eu... E eu...

E eu brincava com o Rogerio de se esconder na barraca improvisada e fingir que a gente estava no meio de uma floresta selvagem perdidos e sem alimentos e íamos ter que caçar e enfrentar onças. A gente se divertia. Nossa cidade era quente, mas a gente colocava casaco para fingir que estava com frio, de noite, no meio da floresta selvagem. A gente também se comunicava por uma radio imaginaria, para pedir resgate imaginário. E o Rogério era muito gente boa. Ele era muito gente boa. O sonho dele era ter um carro igual do nosso amigo Antônio, o filho do coronel. Não era um carro. Era O carro. Mas o Rogerio, jamais ia ter aquele carro, a não ser que... Eu nunca entendi como o Rogério virou traficante e se viciou em craque. Ele era muito gente boa. Muito gente boa.  A foi crescendo e o Rogerio me deu de presente um livro no dia do meu aniversario. Era a peça Hamlet. Hamlet? Que porra é essa, Rogério? Eu lia e não entendia nada. Ele me falava de ser. De existência. Eu achava que era o efeito das drogas, mas ele olhava nos meus olhos e dizia: “não! Não é isso! Não é isso!” e ficava alterado, seu rosto vermelho horas, ficava muito alterado “não é isso! Não é isso!”. Eu o amava muito, ele era muito gente boa,  e não gostava de ver ele tão vermelho, parecia que ia explodir. Uma vez, numa dessas brigas, ele estava tão vermelho que  para calar sua raiva, eu o beijei na boca. (pausa) E ele me deu um soco na cara: “porra, cara, ta maluco, ficou maluco, ta maluco?” Eu disse que só queria calar a boca dele, para ele não explodir, porque o amava. Ele nunca mais falou comigo. Eu tentei ler o Hamlet de novo e acho que entendi mais. Eu queria dizer para ele que entendia mais do Hamlet, mas ele nunca mais falou comigo. Nunca mais. Meu professor de catecismo soube do beijo, até hoje eu não sei como, e me mandou rezar cinco dias seguidos. Eu também não entendi, principalmente depois que ele me mandou repetir o beijo com ele, mas eu não repeti, porque eu não o amava. A minha professora de matemática também soube do beijo , eu também não sei como, e chorou na minha frente depois da aula, quando a gente estava sozinho na sala. “eu estou decepcionadíssima com você”, ela repita essa frase gritando. Eu ficava desesperado de ver ela chorar até que  ela me agarrou e tirou a minha roupa e colocou meu pau dentro do sexo dela e começou a se mexer e eu gozei. Fiquei cinco dias lendo Hamlet, tentando entender um pouco mais das coisas.

Um dia  eu soube que meu amigo Rogerio se matou de tanto craque dentro do carro que ele conseguiu comprar, igual a do nosso amigo Antônio, filho do coronel, casado com a Fatinha. E eu li o Hamlet mais cinco dias e eu ... entendi um pouco mais. E eu chorei e quase morri. Decidi sair da cidade, mas minha mãe disse que se eu fizesse isso,  ela ia morrer de solidão. Esse foi outro choque.


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Então eu acordei sobressaltado. Dentro de mim voava os órgãos por todos os lados . Eu estava tão cheio de vida que nada me bastava, então me concentrava em todos os detalhes do mundo. Porque meu coração estava disparado de tanto querer. Eu começo a entender que o amor é uma coisa que eu guardo e mostro o tempo todo. Eu o conquistei quando nasci e ele anda comigo aonde eu for. As vezes algo me provoca  a coloca-lo para pra fora.  Algumas horas eu perco o controle, porque eu não sei muito a medida das coisas. Algumas pessoas se assustam e fogem. Algumas não. Todas as pessoas se assustam e fogem. Todas. Eu aqui, não consigo olhar nos olhos de ninguém. Nos olhos. De verdade. Eu aqui... Eu procuro, eu busco. Talvez eu nunca mais as encontrarei de verdade. Agora eu vou ficar triste, e não sei quanto tempo isso vai durar. Eu tenho medo da minha tristeza, pois é quando eu afasto o outro de mim. Eles escutam meus gemidos de dor, angustia, minhas pontadas no peito que escapolem a qualquer hora do dia, eu não posso controlar isso. E não me entendem, porque não há nenhum motivo aparente. Aparente. Eu acho que é porque eu amo demais e todo esse amor não cabe no mundo. E meu peito dói, o ar passa por fora da garganta e eu crio um espaço inflado no meu corpo. Eu começo a morrer de tanta vida. E todo mundo percebe. Eu tento me esconder, mas são as horas que eu mais apareço, apareço de tanto existir de verdade. E a coisa que mais me assusta é ficar sozinho. E a coisa que mais me assusta é ficar sozinho. E a coisa que mais me assusta é ficar sozinho. Eu disfarço. Pronto, agora estou sorrindo. Agora estou ótimo. É melhor que me vejam assim. Estou perfeito. Minha vida é perfeita. Eu tenho uma casa. Eu tenho um carro. Eu tenho filho. Eu tenho uma casamento estável. Eu tenho saúde. Eu tenho aposentadoria, plano de saúde, canal a cabo, internet, aplicação no banco, mei, inss, pis. Pronto. Agora eu sou perfeito. Estou dentro. Totalmente dentro. Já vão começar a sorrir para mim de mim. Já vão começar a se aproximarem de mim de novo. Talvez me convidarem para suas festas de aniversário, ou churrasco de bodas e chás de fraldas nos domingos a tarde a céu aberto no jardim de algum parque desta cidade. Que lindo!
Ainda assim vou procurar em cada canto, alguma espécie de pessoa que encaram o universo como eu. Me olham nos olhos e viramos cúmplices. A gente ri em silencio em  fagulhas de segundo de sonhos reais .









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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

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Então eu acordei sobressaltado. Dentro de mim voava os órgãos por todos os lados . Eu estava tão cheio de vida que nada me bastava, então me concentrava em todos os detalhes do mundo. Porque meu coração estava disparada de tanto querer. Eu começo a entender que o amor é uma coisa que eu guardo e mostro o tempo todo. Eu o conquistei quando nasci e ele anda comigo aonde eu for. As vezes algo me provoca  a coloca-lo para pra fora.  Algumas horas  eu perco o controle, porque eu não sei muito a medida das coisas.
Alguma pessoas se assustam e fogem. Talvez eu nunca mais as encontrarei de verdade. Fico triste, mas passa. Me interessam mesmos as  outras, que encaram o universo como eu. Me olham nos olhos e viramos cúmplices. A gente ri em silencio em  fagulhas de segundo de sonhos reais .

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Ao mesmo tempo

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A revolução interna não acontece na sequencia das coisas ordenadas metodicamente pela vida que segue.
E o arrebatamento ao mesmo tempo, que te eleva e te testa com todas as forças, pelos poros e as veias, pelos gestos e pensamentos, chacoalha e reverbera a cada instante.
Nos segundos intensos te faz metralhar passados recentes para dar espaço ao concreto presente em cada novo gesto repleto de sentimento.
O coração bate feito a voz que sai no canto querendo respirar para além corpo e invadir o espaço feito pássaro eterno.
A sombra e a Luz te habita ao mesmo tempo com a mesma intensidade.
Acorda-te e olha para o céu. Encontre os pontos que mudarão seu olhar para ti mesmo.
Encontre as frestas que farão pensar por novos caminhos. E que esses caminhos te encham de confiança, te encham de solitute. Te encham de você por inteiro, ao mesmo tempo que metralhas seus medos.  Te deixe perceber que sempre será ao mesmo tempo. Sempre. E que seja mesmo. E que seja em frente.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

A encruzilhada

Estava caminhando quando se deparou com dois caminhos
Olhou várias vezes para cada um deles.
Ficou horas no meio, escolhendo qual deles seguir
Teve momentos que pisou com firmeza em um.
Era o mais iluminado, de linha reta e uma estrada longa e chão plano.
Chegaria mais rápido, em algum lugar, era evidente.
Mas recuou.
Olhou para o outro.
Não era tão iluminado e tinhas muitas curvas. Subidas e descidas. E muito mistério.
Não dava para ver após a primeira curva.
Demoraria mais tempo a chegar em um lugar, era evidente.
Fez um esforço: olhar para dentro de si.
Se viu, se ouviu.  Respirou.
Seria mais fácil ir correndo em linha reta.
Mas pegou o caminho das curvas, subidas e descidas.
Sabia que mesmo demorando mais tempo
Precisava confiar na sua força de saber chegar
Sem saber o que virá após a curva
Porque não importava o tempo curto
E sim a qualidade dele.
Seguiu.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

A cidade disfarça em cores e arquiteturas modernas
As dores dos espíritos
Pelos sangues jorrados dos povos indígenas
E até aqueles que não sabem chorar
Se  debatem sobre travesseiros
Nem o verão  mais quente aquece
A frieza dos desalmados


quinta-feira, 7 de julho de 2016


Em campos grandes com jeito de cidades pequenas
Sou forçada a orar por mim
No espelho o reflexo de passados recentes
Surpreende as novas marcas do corpo
Que clamam para não passar da hora
Antes que o presente sucumba de medo
De sonhos estranhos
Paralelos do por do sol
O coração que é sábio
Me desacelera
E renovo a cada instante

domingo, 19 de junho de 2016


Quando de repente foi arrebatado de lembranças,
Segundos depois, a água escorreu dos olhos.
Deixou.
A correnteza passou deixando um espaço livre.
Olhou de novo a janela
Eram as possibilidades
De dentro.

sábado, 11 de junho de 2016

“Bom dia” na multidão de uma noite fria.



E a gente que estava juntos, deitados, numa noite dessas, vendo o filme dos Irmãos, na plena intimidade que se espalhava pelos corpos, protegidos da rua, da noite, do mundo, na falsa proteção de nós, expondo o melhor  e o pior um do outro, no paraíso do apartamento, no detalhe de uma conversa fútil e profunda , de insights e sorrisos. E de uma hora para hora, num corte seco do tempo, temos a capacidade de fingir a não intimidade de forma excepcional. O paraíso se torna o inferninho da multidão, numa noite fria de encontros, nos deparamos com nossos olhos que não olham nos olhos e comentamos superficialmente sobre tudo o que não sabemos fazer, para mostrar qualquer espécie de educação em meio a mutilação da civilidade :   Oi! Oi! (tempo, olhos não nos olhos) Cheguei agora. Legal. Eu já tô aqui há um tempo. (tempo, olhos não nos olhos) Bom, vou lá. Aniversário... Tchau. E a saída forçada de cena, tentando eliminar a memória recente de um lugar sólido, desmanchado no ar. Somos seres infelizmente aptos a ir contra a natureza, a ir fingir o conforto no desconforto, a acreditar que nunca fomos íntimos, nos apoiando na ideia realista de que nunca mais seremos.   Mas o que alivia é que a memória não é tão desapegada  da alma, e nos faz ser quem somos. Olhar para frente, sendo tudo o que perdemos. E eu, que sempre observarei as ansiedades de corações vazio perdidos na noite, e de vez em quando, serei um coração perdido vazio na noite em busca de sorrisos e olhares cúmplices, vou sempre voltar para a casa com a sensação de aquele musical que passava na madrugada do canal tal,  é a  esperança  dos sonhos. Durmo com a imagem mais linda de três coisas que fazem  da fantasia a melhor realidade e o sofá quentinho o melhor point da noite: Bom dia na madrugada chuvosa, dança transgredindo um apartamento, e a paixão de três amigos e dois amantes.

 

segunda-feira, 30 de maio de 2016


E quando penso que estou no topo
A vida me manda descer em queda brusca
Volto a encontrar meu “eu” em profundo sofrimento
Que se reconstitui através das lágrimas
A solidão, extensão de mim
Me faz andar de novo
Dessa vez quero encará-la sem medo, com  maestria
Começo rastejando, aos poucos os pés sustentam as pernas,
Ergo a cabeça e vou
Novamente
Reconstrução
Não me interessa mais o topo
Quero chegar longe
Num caminho sem fim.

terça-feira, 17 de maio de 2016



Escrevo para viver de ilusões
Que me arrebatam sentimentos
E não me fazem morrer de realidade



quarta-feira, 27 de abril de 2016

Evoluir é aprender a ser pássaro
Voar pleno e livre
E quanto mais longe, melhor
Sozinho ou em bando
Sem as amarras do ego
Que nos escravizam ao chão
E cortam as asas dos outros

sábado, 16 de abril de 2016

Os ex amores não morrem
Eles apenas se perdem
Dentro
Pra gente buscar fora
Um novo achado



quarta-feira, 23 de dezembro de 2015


É platônico
E por isso te farei feliz
Por amor a ti, a mim.
E assim nos protegeremos
Das dores da realidade.
A fantasia será  nossa verdade.
Sendo nossa, só minha.