A poesia é a síntese das palavras. É aquilo que o acaso imaginou. É o êxtase que faz do real a maravilha. É o impossível que já se realizou .
O palhaço encontrou a bailarina. E num instante o tumulto se esvaiu. Era como se o mundo fosse um pingo. E a solidão da folia sucumbiu.
O palhaço cumprimentou a bailarina. A bailarina pela primeira vez chorou. Não chorou por medo do palhaço. E sim porque finalmente alguém sorriu.
O palhaço não sorriu por estar bêbado. Muito menos por causa do batuque ensurdecedor. Se sorriu foi porque viu na bailarina, a beleza escondida atrás da dor.
Eles eram colegas de trabalho. Mas no trabalho nem diziam “oi”. A opressão do corporativismo rompe. E no carnaval sem perceber ela se foi.
Ele pede a mão da bailarina. Só queria dançar pelo salão. Já eram mais de cinco da matina. O clareza dispensava a escuridão.
A bailarina já não tinha sapatilha. Eram apenas pequenos pés no chão. Mesmo assim rodopiou feito Ana Botafogo. E o palhaço não soltava a sua mão.
Eram apenas colegas de trabalho. Mas agora eram homem e mulher. O palhaço a bailarina dançam. Ele se chamava Paulo e ela se chamava Ester.
O momento transforma tudo em eternidade. E num instante o que não era transformou. O palhaço quis beijar a bailarina. E cautelosa por fim ela deixou.
Eles eram colegas de trabalho. Mas agora pertenciam ao carnaval. O palhaço e bailarina juntos. Eram como a lua completando o sol.
De repente a multidão invade. E o salão parecia explodir. O palhaço e bailarina correm. Quem sabe já não era hora de partir?
Eles param em frente ao horizonte. Rio de janeiro, praia, mar, calor. Quarta Feira de Cinzas vem surgindo. E com ela se consome o amor.
Amanhã é dia de trabalho. Quem sabe eles já se digam “olá”. Mas se não, o que importa é o hoje. O agora é que vai ficar.
Daqui a pouco eles vão se despedir. Esse momento deve acontecer. O palhaço e a bailarina juntos. Isso nunca iriam esquecer.
O palhaço amanhã é Paulo. A bailarina talvez seja Ester. E quem sabe nem se digam nada. Porque Paulo não sabe quem ela é.
Mas quando Paulo for palhaço. E Ester quem sabe bailarina. Dancem juntos por toda eternidade. Agora sim. Como homem e mulher.
FIM
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