domingo, 29 de junho de 2014

Mais que a lua







Hoje acordei a fim de ser eu mesma, a eu mesma que seja eu, mas que eu não seja a mesma de ontem. O que de mim gera no mundo, não sei. Me interessa o que o mundo gera em mim. Portanto deixo os cálculos para os matemáticos e os terapeutas.  Que se nascemos para morrer, melhor morrer de errância que a coragem de não ser quem somos. Pois que para fingir quem não somos tem que se ter mesmo é coragem.
Só sei que agora a primavera cabe dentro de mim, e o verão, outono, inverno também. Já não me pesam os pensamentos, deles fiz um conto, e no conto, recortes do não dito. 
Me lanço numa enseada de luz desocupada de domingueira. Nessa tarde de tudo, vou empobrecendo de palavras enquanto as deposito aqui.  Traio o papel e o lápis com letras digitais, virtuais, para me enganar com a simples ausência dessa proesia. 
Penso em Manoel de Barros, tão ele mesmo que me faz lembrar  o quanto as cigarras se alfabetizam com o silêncio.
Sou agora, então uma cigarra, aprendendo as vogais da palavra "silencio" que nesse momento completa tantos sentidos de minha vida.
E o grande poeta ensina que enquanto aqui divago, formigas transportam infinitamente a terra.
Estarão engolindo o mundo?
Surpreendida estou com a simplicidade ao mesmo tempo que peno para entender as poesias.
Vou sair e ver o que tanto se parece com o amanhecer: o por do sol, meu melhor amigo. Depois, angustio vendo a noite ascender o escuro. 
Tudo semelha tudo.
Só a coruja atrapalha a eternidade.
Lembrei de amores que viraram a lua cheia quando a olho despercebida.
A saudade sou eu mais que a lua.

E agora só penso no desfuturo.
Hoje acordei eu mesma.

Um comentário:

  1. Que lindo você sendo você mesma, minha amiga!
    "A saudade sou eu mais que a lua.
"
    Beijos, Natasha

    ResponderExcluir