sexta-feira, 17 de setembro de 2010

CANÇÃO DAS HORAS DELE

Às sete horas acordou inteiro
Tomou café com um sorriso estampado.

Se alimentou com um pão com manteiga,
Que era quentinho do jeito que ele gostava.




Às oito horas já se arrumava,
E a manhã era ensolarada.
Queria ter o mundo de uma vez,
Hoje é sexta feira, ele sai às seis.


Às oito quinze ele se despedia,
Sua mulher hoje não trabalharia.
Iria esperá-lo em casa,
Para um jantarzinho que há muito não faziam.


Às nove horas já estava no trânsito,
Uma musiquinha na rádio pra relaxar.
Mas o caminho era um pouco longo,
E um barbeiro fez ele se atrasar


Às dez e quinze chegou no trabalho,
E o seu chefe, como sempre, reclamou:
“Como é que pode um funcionário como ele,
Chegar tão tarde sem se explicar?”


Às onze horas ele já suava.
No escritória não tinha ar.
E o seu terno era tão escuro,
Que o calor não dava pra aguentar.


Ao meio dia já sentia fome,
Mas não podia sair sem terminar.
Enquanto trabalhava dando duro,
Só pensava na hora de almoçar.


Uma da tarde, ele largou tudo.
Não dava mais para se concentrar.
Avisou que sairia
E num bar da esquina foi se alimentar.


Às uma e meia ele já voltava,
Mais uma vez seu chefe foi falar:
“Aonde foi que você se meteu,
Quando eu te chamei e você não tava lá?”


Duas tarde ele se coçava,
Pensava na esposa a lhe esperar.
Sabia que ela usaria
O tal vestido que o faria suspirar.


Duas meia chegou mais trabalho.
Uma pilha de papéis para assinar.
Com tanta coisa, ficou desesperado.
Já imaginava que seu tempo ia se esgotar.


Às três da tarde era um mal -humorado.
Tão mal-humorado que só sabia reclamar:
“A vida tá uma porcaria,
Tudo o que eu quero é viajar”


Quatro da tarde estava ansioso.
Daqui a pouco o escritória vai fechar.
Então esboçou um sorriso
E já assinava tudo pensando na voltar ao lar.


Só que as cinco o chefe o chamou.
Era um assunto muito importante.
Começou a falar demais,
E ele se enervava sem demonstrar.


Às seis horas nem imaginava
Quanto tempo mais teria que aguentar.
Ouvir o seu chefe falando era como um pesadelo,
Um sonho horroroso sem ter como acordar.


Às seis e meia sua mulher ligou,
Mas ele não tinha o que fazer.
Sabia que se atendesse,
Ela diria: “Cadê você?”


Às sete horas tava desesperado.
Olhou pra janela e pensou em se jogar.
Mas aí lembrou da mulher
E pediu licença pra telefonar.


Ao falar com ela, ele se explicou.
Mas infelizmente ela não acreditou.
Ameaçou deixar a vida dele,
Se ele não dissesse com quem está.


E o seu chefe o chamou de novo.
Quase que ele pediu demissão.
E aí lembrou dos futuros filhos
E não quis que eles só comessem pão.


Às oito horas, foi liberado.
Mas sua cara estava no chão.
E cheio de amargura,
Voltou pra casa pior que comida de avião.


Sua mulher só gritava,
Achava que era traída com uma qualquer
E ele não tinha forças para lhe dizer
Que não tinha outra mulher.


Às nove horas foi dormir bem triste.
Tão triste que nada comeu.
O jantarzinho quase estragou
Pois para eles o casamento terminou.


Em nos seus sonhos ele dançava.
Sua vida ali era a que gostaria de ter.
Então pensou: “Pra que acordar
Se naquele sonho ele poderia ser? ”


À meia noite teve um sobre-salto,
E acordou sem nada dizer
Foi caminhado até o banheiro
E no espelho ele quis se ver..


Sem perceber, começou a chorar.
Um choro contido que depois desabou.
Era um bebê precisando de colo,
Uma criancinha precisando de amor.


Duas da manhã se ergueu ligeiro,
Foi até a porta da sala e a abriu
Olhou pra toda sua vida de longe,
E sem mais pensar ele partiu.


Sábado, meio dia, foi encontrado
Nadava nu na praia do Leblon.
E feliz com o que tinha feito
Não ligaria se o chamassem de doidão.


Era melhor assim que não sorrir.
Aquela vida não queria mais não!

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