sexta-feira, 25 de abril de 2014

achados e perdidos


Luna chega no Balcão de Achados e Perdidos do Metrô
Cleia, meio tensa ao celular, vê Luna com olhos arregalados e, a contragosto, desliga.

Cleia: Posso ajudar?
Luna: Que bom ouvir isso! Adoro ouvir "posso ajudar"! Olha! (mostra os braços) Tô toda arrepiada! Finalmente!
Cleia: Posso ajudar?
Luna: Mas é claro que pode! Deve! Suas palavras me fazem chorar. Não, porque, não sei se você reparou, mas hoje em dia ninguém mais se olha nos olhos, muito menos pergunta se pode ajudar...
Cleia: (ríspida) Posso ou não posso ajudar?
Luna: Sim!  Sim! Pode! Eu tô procurando uma coisa.
Cleia: Qual o seu nome?
Luna: Luna. Meus pais queriam me chamar de Lua, mas acharam esse nome hippie demais aí colocaram um "n" no meio...
Cleia: (corta) Cartão, carteira, bolsa, identidade, CPF, celular?
Luna: Oi?
Cleia:  Cartão, carteira, bolsa, identidade, CPF, celular... O que foi que você perdeu?
Luna: Aahhh! O que eu perdi! A mim.
Cleia: "A mim"?! É um tipo de remédio? Se for, acho que não veio nenhum remédio pra...
Luna: (corta) A mim mesma. Eu me perdi.

(pequeno tempo Cleia olha Luna sem entender)

Luna: É o seguinte: há um tempo eu ando tentando me encontrar. E não sei exatamente quando isso começou, sabe? Mas sinto que a a cada dia tá pior. A cada dia eu me perco mais. Me perco de mim, entende? Isso tá me fazendo um mal tão grande... Tô angustiada.  Por isso que eu vim aqui.  Então, você pode ver se eu me acho? 
Cleia: (pequena pausa) Olha, Luna, sinto te dizer, mas você veio ao lugar errado.
Luna: Como lugar errado? Aqui não é Balcão de Achados e Perdidos?
Cleia: É, mas..
Luna: (corta) Então não há lugar mais adequado para eu estar agora!
Cleia: Mas no seu caso, eu não vou poder ajudar.
Luna: Querida, desculpa. Não é uma questão de poder. É uma questão de você fazer o seu trabalho. Apenas isso.
Cleia: Mas é que o meu trabalho não inclui achar pessoas, apenas objetos.
Luna: Mas isso é um absurdo! Aonde está escrito isso?! É por isso que esse país não vai pra frente. Isso é enganação ao consumidor. Exijo uma retratação!
Cleia: Por favor, não levante a voz pra mim!
Luna: Desculpe, não é com você. Eu sei que você só é mais uma funcionária que só recebe ordens, mas você pensa que é fácil?! Você não sabe o tamanho da expectativa quando eu soube que havia esse Balcão aqui no Metrô da Carioca. Você não sabe como me enchi de esperança ao saber desse lugar. Me arrumei toda para o encontro comigo mesma. Fiz até a unha, comprei batom! Aí eu chego e tenho essa decepção?! É muito triste!
Cleia: Triste?! Eu vou te dizer o que é muito triste. Triste é passar o dia inteiro aqui atras desse balcão, num subsolo de um metrô, vendo toda essa gente indo pra lá e pra cá, se movimentando, sabe, movimentando, enquanto eu fico aqui, parada, pensando numa maneira de conquistar o mundo que termina no primeiro almoço do dia, depois que eu como um prato maior que a minha barriga e não tenho mais condições de pensar em nada.. Triste é saber que o Ricardo Freedman que tem cartão internacional do Itaú Personalité nunca virá buscar o cartão, porque provavelmente ele tem outros e pra que se preocupar com isso?! Ou (pega uma foto) a Clara Vianna nunca ira buscar essa foto, que ela tirou nas montanhas de um lugar bonito do mundo. E que eu adoraria estar nessas montanhas como a Clara  e no fundo adoraria que Clara viesse buscar essa foto para, quem sabe, conversar com ela um pouco e, quem sabe, ela me convidasse pra ir na próxima viagem. E eu fico torcendo para virem buscar as coisas. Para ver as pessoas por trás das coisas. E só me resta imaginar e isso me deixa um pouco triste. Agora me diz. Quem tá mais perdida, você ou eu?!

(grande silencio)

Luna: Eu tenho Riviotril, quer?
Cleia: Não, obrigada, eu me viro bem com chocolates.
Luna: Ah...(tempo) Bom, então se precisar de qualquer ajuda, pode contar comigo. Esse é o meu cartão. (entrega um cartão) Tem meu telefone.
Cleia: Obrigada! Desculpa aí o desabafo.(chora)
Luna: Imagina... Não chora! Eu te entendo. 
Cleia: Você me entende? Que bom!
Luna: Vem cá.

 (Luna dá um abraço em Cleia que se debulha em lágrimas)

Luna: Fica calma. Vai ficar tudo bem.
Cleia: Obrigada.

(terminam o abraço)

Luna: Então eu vou continuar por ai tentando me achar....
Cleia: Boa sorte. (Luna vai sando) Luna!
Luna: (para) Oi?
Cleia: Eu saio daqui a meia hora, topa ir no cinema? Ta passando um filme ótimo no Odeon. Hoje é só cinco reais.
Luna: (tempo) Taí! Topo!
Cleia: Quem bom! Eu tava doida pra ver, mas não queria ir sozinha...
Luna: Eu vou comprando os ingressos.
Cleia: Boa.
Luna: Pra que lado é a saída do cinema? 
Cleia: É pra...
Luna: (corta) Achei!
Cleia: Achou?
Luna: Achei! 

O telefone toca. Cleia não atende. Sorri.

terça-feira, 22 de abril de 2014

solidez contemporanea

Lindos e  infames são os desencaixados românticos, esses transgressores do modismo, com almas apegadas ao passado que talvez só existiu no imaginário de escritores.

Sofrem e voam longe, vivendo por dentro e pra fora, frenéticos de sentimentos.
Pedem com os olhos o que a boca não fala. 
 Silenciam até transbordarem e saem loucos por aí, dando um jeito de acalmarem as pontadas fortes no peito.
Pontadas fortes no peito que sentem. Ah, eles sentem! Quando a vida invade a avenida do coração nem o mais poderoso Buda é capaz de reconhecer o que acontece.
Sentam na mesa de bar para beber o futuro no copo gelado, ou café com pão de queijo, os que preferem café com pão de queijo.

Buscam respostas nas experiências de outros, buscando aconchego e um pouco de paz.
E se emocionam quando olham os amigos e de repente lembram o quanto é bom ama-los.
Eles amam e é geralmente incondicional. E concreto.
Eis os sólidos a pulsar por aí.

Vivem meio perdidos com tantas respostas sem soluções.
Mas quando se acham...
 Ufa!
 Haverá festa no fim do túnel.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

instante no calçadão de noite

Às vezes é preciso entender o que corpo pede. Principalmente quando não se sabe mais onde colocar as mãos, depois de "tudo ia normalmente, até que...". O computador havia dado pau.  O seu objeto de trabalho gritou, ficou azul, aquelas letrinhas estranhas surgiram na tela e sem saber o que fazer deu um boot, game over, sei lá o que eu fiz. Ela entendeu isso como um sinal. Tava sufocante demais ficar ali. Ainda mais com aquele ar dizendo "venha". Porque a maior angustia é estar num lugar querendo estar em outro e ter que matar a angustia, engolir seco, comer sapo, ligar a TV e chorar de vazio. Seguiu o caminho mais óbvio. Colocou sua roupa mais sei lá o que. Era pra ser leve. Um short, uma blusa solta. A ideia era deixar o vento fazer da roupa uma extensão do cabelo, esse que meio que prendi, mas soltei, mas prendi e desisti e fui assim mesmo. Olhou pra ela, a Babi. A Babi é prateada, detalhes em vermelho,  recém saída da revisão, um piteuzinho de rodas. A Babi estava linda a sua espera, ansiosa para dar uma voltinha com seus freios novos e um sorriso no guidon. Fomos, nós duas. Ela e a Babi. Naquela hora, sair de casa era enlaçar o controle inexistente das coisas.  Lei it go, meu bem. Vamos sentir o vento, são dez da noite e o calçadão de Copacabana está ansioso pra te ver! 

É impressionante o calçadão de Copacabana de noite. E que fique claro. De Copacabana! Não há nada parecido com Copacabana. É a diversidade que compensa o tédio no final do túnel. Não havia lua. Mas o ar estava sensacional. Perfeito para novos portais. Muitos casais se beijavam, famílias inteiras faziam filas para o camarão no espeto. Nos quiosques ( se é que é ainda assim que se chamam) músicas para todos os tipos. Era exatamente isso o que ela queria: sair da anti-paz do lar e ouvir Lupicínio Rodrigues cantado por um músico empolgado com seus três ouvintes. Mais a frente, rock and roll, man! Se distraiu com um maluco, só que não, que dizia que o mundo acabou e já estamos no purgatório. Quase atropelou o corredor, que não a  xingou porque ficou desconcertado ao ver o sutiã dela praticamente pra fora da camisa com o deslocamento brusco da Babi. Ela ajeitou a camisa e segui sem culpa até o extremo do calçadão. 

Chegou a comparecer no outro bairro, mas que tristeza, que pobreza de espírito. Quase todos os serem humanos iguais, torciam o nariz para os surfistas que, felizes com o acolhimento do mar, faziam arruaça antes de voltar pra casa. Voltei correndo pra Copacabana! Cores, cheiros, músicas, loucos, solitários, melancólicos, alegres, gordinhos, vulgares, sexys... Que delícia! Isso sim é que é vida! Se não se pode ter tudo, se não se pode estar no alto de uma montanha fazendo trekking, e se não foi ao churrasco de feriado, por pura incompetência em fazer esforço para estar em sociedade naquele lindo dia, não haveria melhor lugar para estar agora. A Babi agradecia. 

Foi ao outro extremo, o melhor lugar para ela.  Se Copacabana era alegria, o Leme a nostalgia! O Leme! Porque a pedra que envolve o mar valoriza a beleza da cidade quando o caos quer falar mais alto. E - por pequeno instante - até esquecemos a violência, as dores nos olhos perdidos e esquecemos o carma. O Leme suscita, evoca a divindade. É uma pequena prova da Serra-mar na cidade mesmo. 

Rodopiou umas quatro vezes o bairro. Na pedra acabava um showzinho pop. O lugar tava cheio, mas o rico do prédio em frente não gostou do carnaval fora de época e gritou "cala a boca viado!". Ninguém o ouviu, só eu. E ri de sua pateticidade"Deixa em paz meu coração!" Era o que gritava a bichinha louca, só que não, no banco. "Deixa em paz meu coração! Tô falando com você, tá surda?" Era com ela? Não. Era com a moça que passava com seu namorado impunemente. "Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa. E se tiver desatenção, faça não, pode ser a gota dágua..." E que belo é ouvir essa música tão densa na voz da bichinha. Se Chico soubesse, poderia até se apaixonar... Vai saber. 

Suspirou... Ai, ai, não queria voltar pra casa. Ia fazer o quê? Escrever essa espécie de crônica? Melhor seria se... Mas enfim. Infelizmente o calçadão começa e acaba. E no meio, ela voltava. Resolvi me despedir ouvindo mais um pouco do Lupicínio. Quase chorou... Lembrou que tava nos dias vermelhos de fúria. Eita, como era difícil, às vezes, se entender em meio a tanta informação. Vamos lá. Sigamos. Assim ela pensava. Porque uns dão importância para coisas que nem passam pela cabeça de outros. Mas é justamente isso que! Vento, obrigada, você acarinhou minha noite. E um beijo, Copacabana. Vou voltar para mais uma de suas janelas indiscretas e terminar a peça que ta me remoendo por dentro, porque a obrigação é a porta para a transgressão.

 Voltou pra casa com leve sorriso nos lábios, mas que nem percebeu, porque pensava em outra coisa. Seu doce porteiro carregou a Babi, essa sim, bem felizinha com o passeio.





domingo, 20 de abril de 2014

Porque tudo afeta
 E se não afeta é um grande problema
 É uma existência roubada e burra
 E esse papéis sociais deviam ser rasgados imediatamente
 E todos nós curados de tudo que já aprendemos
E todos nós virando bebês e reinventando a vida
Pra não pirar com as revistas e jornais
 Não nos deixar invadirem nossos corações puros e nos mancharem a alma
Basta um pouquinho pra sair do eixo
O pouquinho que é o mesmo que tanto e tanto basta para morrer de paixão
 Morrer que é o mesmo que viver
Que pra viver nada basta
 E a cada coisa que eu olho agora, sinto vontade de comer
Pra tudo fazer parte de mim, dentro de mim,
E minha pele ser feita de Mundo
E assim transmutarei eternamente
E que belas são as descobertas!





...

E de repente, sentiu uma pontada aguda por dentro.
Não se aguentou e começou a correr 
Também soltou a voz no pátio externo do museu
Pessoas o olhavam sem reação
Então eu reparei no céu.
Era final da tarde.

...

sexta-feira, 18 de abril de 2014





Ela achou um quadradinho de céu
E seu coração acalmou






.
E numa tarde tão mansa como um carinho roubado
Ele esperava
Seus olhos parados num ponto fixo.
Esperava.

Até ali fora tanta coisa que um dia transbordou
Mas agora só.

Aí ele rezou.
Era outono.
Rezou.

Pra não morrer de humanidade

quarta-feira, 16 de abril de 2014

sábado, 12 de abril de 2014

Dentro de mim
Agora
Acontece o encontro das águas
Ou
A dança das borboletas

Ouço o céu
Frente a frente
Rimos
Ele me diz: sonhe

Vejo o vento passar

É tudo tão delicado
Tão...
Uma reza de criança
E simples

Bem simples



quarta-feira, 9 de abril de 2014

Partir infame levada solta
Transgredir o óbvio destino 
Largar o corpo na música descompassa
Alegria que não pede perdão
Dança de Baco na ingênua noite 




segunda-feira, 7 de abril de 2014

Poderia eu também dar defeito
Deixar a angustia predominar
Mas não posso, senhor
Quem me seguraria lá embaixo?
E no medo maior da solidão
Me entupo de coisas e afazeres
Um dose de culpa
Que segura a onda da insanidade
Do desejo íntimo de andarilhar sem rumo
E ser só poeta
E ser só ficção
Só história
Oh, história!
Para ser mais que de mim
Há de ser prático e ter o pé no chão
A angustia do artista
É ter que negociar para ser artista
Mas não há outra saída
A vida não dá colher de chá
No reino animal vence o mais forte 
E estamos todos em busca do leão.
Então, senhor, não me deixe dar defeito
Não posso agora


É só por um instante que a luz enfraquece
É só um por instante
Não é questão de ter religião
Mas fé.
Tem um monte de portas invisíveis por aí
É só entrar
Entra!
E calma! 


domingo, 6 de abril de 2014

Conseguir começar
É dizer sim para uma nova vida
Renovar as possibilidades
Recriar serotonina
E avante, deixar bater o coração
E o sangue virar cachoeira
É o tesão que muda tudo
O amor por tudo.

domingo


Sobretudo ser já é esperar algo
Ainda mais em dia de Domingo
Silêncio martírio

Lá fora  famílias desesperadas pela obrigatória diversão
E eu aqui na janela a tentar
Em acalmar o pensamento

As flores ao lado do computador
Me convidam pra sair, me dizem, vai passear!
Mas o dever não tem feriado

O ar de hoje está bom
 Não há tucanos na árvore
Mas o ar está bom

Quebro o silêncio com a música do Keith
O eterno piano dedicado à sua amada
 É lindo. E o céu fica até mais azul

Lembro que hoje é dia de tapioca na feira
Me transporto pra Glória
Que bom que a feira sempre volta.
A gente é que nem sempre.

Queria que o tempo congelasse
Pra daqui olhar pra ele
Sem pontadas de angustia
Serenamente sorrir
E não ter medo
De sentir o que há por dentro
Ou me atropelar.



quarta-feira, 2 de abril de 2014


Taquarussez
É o que ele fala
O guardião de um portal
Para outros, um caminho
Que leva ao rio,
À esperada queda das águas.
Mas é tudo dele.
O tempo é dele
Todo ele.
E fala solto
Sua própria língua
Sorriso de olhos puxados
Ali.
Cidadezinha
Inha
Distrito.
Verde.
"ui ô é da do om a aoei 
e a ed-ra aa ão aí"
Tempo
Os que se assustam
Dizem sim
E vão, num pé só
Para o caminho.
Os que olham de verdade
De verdade.
Os que olham pra ele
Agradecem
Respeitam
O tempo é dele
E passam
Pelo portal.






terça-feira, 1 de abril de 2014


O tempo é mistério

E quando passa pelo nó atado em laços fortes
Acorda a dor que causa o nó
Faz tudo gritar por dentro
O que por fora se maquiou.

O que por fora se maquiou
Se desmancha na água
Quando a memória fala
E o coração se faz presente

E o coração se faz presente
No instante em que a lágrima brota
Cai no chão, germina
Após um rio revolto, acalma
Desata um laço do nó passo a passo.

Desata um laço do nó passo a passo
Não é de uma vez que o vôo é livre
Não é de uma vez.
Mas voa. Livre.

O tempo é mistério.

sábado, 29 de março de 2014

Saudade é o arrebatamento
Quando no meio de um lugar qualquer
Depois de um riso solto
Envolto ao mundo de gente
Cair no choro por uma lembrança
Daquela gordurinha debaixo do braço
O detalhe que se torna protagonista
O bel prazer de uma memória 
E se fato foi, concreto é.
A diferença é a mera matéria.
Que desmancha no ar.






quinta-feira, 27 de março de 2014

E você me atirou no mundo
E eu tive que reaprender a andar
E me ferir pra curar
Reconhecer um novo olhar
Nos diversos olhos que encontro no caminho

E você me rebatizou
E vaguei sem chão, mas céu azul
Chorei sem fim
Também ri como a primeira vez

Você me refez
Me despertei
Aprendi a tocar
Reconquistei o que se perdeu em mim
Me desarmei para lutar

Não entendi, mas sei
Morri. 
Mas ressuscitei
E agora
Multiplicar, expandir, explanar
Abrir os braços
E voei.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Meu corpo é meio sírio, russo e turco.   
Sem o quê da mulher brasileira:
Peitinho empinado, a bunda comprada, o nariz afilado.
Nasci com a sina da mãe judia
Em tempos de mães solteiras
Saio na rua e não sou a mingnon
 Mais violão que violinha
Ainda assim estou lá, na academia 
Enquanto subo a escada parada
E a TV se impondo, bem grande, até demais.
 Me obrigando assistir a atriz bela corpão
A que todos querem ter ou ser
E eu meio síria, russa, turca
Meio jovem em corpo de matrona
Meio mulher com jeito de menina
Ou menina sem jeito pra mulher
Cabelos sem escova
Gordurinhas
Comendo salada e o congelado ligth da nova alimentação
Qual o limite da saúde e a escravidão?
E todos esperam isso de mim, de nós?
Salto longo, saia curta, roupa conceitual?
Oh, good
Culpa dos pais?
Mas se conheço muitas outras meios.
Meio portuguesas, polacas, italianas, turcas, sírias e coisas mais.
E não seriam também brasileiras?
Então que palhaçada é essa?
Se é o Brasil da miscigenação?!
Somos todo corpo padrão!





sexta-feira, 21 de março de 2014

Sem fim
Não há o recomeço
Os que não o querem
São os sedutores histéricos
Com medo do futuro
Abrem portas e não fecham
Deixam chamas espalhadas
Pra quem sabe, um dia
Voltar para qualquer coisa

O fim pode ser bom
Porque nele nascem nossos melhores outros
Mudamos de pele e seguimos 
Novos
E somos também o que perdemos

quarta-feira, 19 de março de 2014

Você não poderia viver comigo
Não seria justo eu aqui de costas pra ti
Janela fechada, o sol queimando
Eu aqui, mulher sem sexo
E o mundo lá fora, meninas tão belas de salto
Eu aqui, ganhando dinheiro
Pagando meus sonhos, os quais te excluí

 E você não poderia mesmo viver assim
Nas minhas sombras ocultas
Tu és homem, e eu só escrevo teatro
Tú és Bukowski, eu Cecília Meirelles
Sou doce e sincera
Tú és seco e malandro
Whisky na água de coco.

Vai mesmo te achar bem distante
Eu aqui continuo fingindo
O que você já não se engana.
Passou os tempos de vítima
Virei a víbora no corpo de Medéia
Matei os nossos não filhos
Fui eu que fiz tudo daqui
Sentada
E essa sina de querer conquistar o mundo
A insegurança de quem já foi criança sofrida

Me perdi
Te perdi
Disse sim

Mas era fim

domingo, 16 de março de 2014

Pós um domingo

Porque não sabemos o que nos espera, mas sabemos de tudo, no fundo, de tudo, sabemos.  Somos líquidos e profanos. Desafiamos o que pode acontecer sem poder acontecer, para assim, vivos, vivermos. Ateus ou não, estamos salvos, às vezes de nós mesmo, da expectativa infame, a histeria disfarçada de excitação, que nos engana, dança e brinca na rua, nos faz de peão e, girando, vemos o todo e puft! O chão! 

Mas o chão que em vez da dor, acolhe, te coloca frente a frente com o que já era, já era. E no final, esse final que não existe antes da morte, rimos. Rimos da graça, do que já era entendido sem querer ser de fato ser. 

 E mesmo o filósofo mais filósofo, mais cético, mais filósofo, sabe que sim. Então, tudo bem. Que saibamos evoluir (que arrogância esse início de frase) a cada vez que. A cada vez quê? Melhor é rir dos tolos, dos idiotas ou frágeis, idiota ou simplesmente frágeis, carentes, enrolados, enfim... rir, apesar de infinitas coisas que um idiota ou frágil possa ser. E todos já tivemos momentos de idiotas e frágeis, então, tudo bem. Tudo bem mesmo. Voltemos pra casinha, pro cobertor de lã, que ali todo mundo é rei e não há como se ferir. Depois, saímos de novo para o que pensamos saber, mas tudo será diferente. 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Me secri

E o que me resta é escrever algumas palavras sem sentidos
Porque sentido já e uma palavra sem forma
E o conflito do saber ganhar dinheiro
para se dar ao luxo de divagar numa tarde improdutiva

Improdutiva pra fora
Pra dentro, outra vida
Oh, senhor, me traga um vidente!
que ele (pode ser ela tb) me tire a inquietude
Ofusque essa ansiedade voraz
Que come as horas 

E escrevo ao léu para o céu!
Para ninguém

Como ser, assim, numa caixa fechada
querendo estar o tempo todo pra fora?

Flutuaria se soubesse

Admiro muito os poetas
Que falam de si, sem "eu"

Tudo bem, não sou poeta
Sou romântica.


OS DONOS DA LUZ

Quem será que reinventa a Luz
Quando estamos atrelado aos erros.
Mas quem sabe erro é um acerto de contas com crescimento.
Quando nasce o sol e vemos o dia disparar o tempo,
Nos faz agir antes do pensamento,
Caímos na armadilha do momento.
E quem será que reinventa a Luz
Quando ela nos diz que o tempo é lento.


Quem será que reinventa a Luz
Quando precisamos valorizar o presente,
Sem passados que passaram e futuro inexistentes.
E o tempo obedece o agora?
Seria bom lançarmos a corda,
Para segurará-lo e não mandá-lo embora.
Quando tempo eleva a Luz,
Viramos a corda.


Quem será que reinventa Luz
Quando somos outros e não podemos,
Ou queremos e não sabemos como,
Ou precisamos ser outros podendo e sabendo,
E, sendo, seremos melhores outros.


Quem será que reinventa a Luz
Quando passamos na estrada,
Pisamos com passos tão fundos
Chegamos em outras moradas,
Até o outro lado do mundo
Só pra entender nossas falas.


Quem será que reinventa a Luz
Quando nos perdemos no tempo,
E reinventamos o amor
Para não nos perdemos na dor.


Quem será que nos dirá que a Luz se reinventará,
Quando respirarmos lentamente, olharmos para frente,
Abrirmos os braços intensamente
E ver o tempo elevando a Luz.
Para sermos a corda que enlaça o presente.

.

A CHEGADA



Depois de um mergulho em uma janela de um quadro de Dalí
Uma festa que não soube acabar
No coração carnaval todo dia
A euforia de sair do lugar
Continua a pulsar , o sangue correr, o corpo sentir
a alma querer
Mas como voltar?

Se não somos mais o que antes
E os que ficaram estariam iguais?

Resgatar o tempo real 
Mas está tudo distante
Acalmar o anseio de mais
É negar o se transformar
 Mas como se faz
Para se adaptar
 ao tudo que estava aqui
 antes de ir
 Como voltar?
Se reencaixar

Se vira aí!
Dá um jeito
Ou não
Oh não!






quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ainda choro
mas sei que é purificação
Então rezo
Pra lapidar todo esse amor
E fazer uma obra de arte
Que traga mais Luz.

Ainda sinto
uma tristeza no interior
então me lembro
da vontade de continuar
O desejo de aprender

Estou 
cada vez mais perto de mim
Me peguei flutuando no mar
Descobri o quanto posso dançar.
E agora não quero parar.

Estou amando cada vez mais
Essa vida que sabe o que faz
Coração que até bate demais
Pulso firme que sabe ensinar

Às vezes, confesso, tento entender
mas depois eu penso, pra que?
se o passado não dá pra voltar
e o futuro eu posso mudar
o presente eu vivo pra ser

eu  sou pra viver


sábado, 11 de janeiro de 2014



Se quiseres agora
Não posso mais
As palavras perderam a força de tanto esperar
Amor é ação.
Palavra é dúvida.






domingo, 1 de dezembro de 2013

SONHOS II

Tudo ia bem pelo menos pra mim que não via nada errado
 Nem um sinal de escuridão na nossa luz a dois.
Não sei se tava cega ou passei despercebida
Você não me avisou que eu já estava sem saída
E me segurou enquanto pode, pra me largar de repente assim no meio de um nada.

E agora meu amor, estou aqui sozinha tentando entender em que ponto eu errei.
 Talvez não tava olhando para  você do mesmo jeito,
Mas o que fazer se não tive outra escolha, senão lutar até não mais poder.

Tudo tava indo bem pelo menos pra mim que te amava feito mais que já amei.
E não te ouvi quando você disse “calma!”
“Nada é para sempre, estamos juntos agora, mas do futuro eu não sei.”

Tudo tava indo bem até você me segurar quando não tão bem assim, eu senti e quis caminhar.
 Me prendeu à promessas de um futuro belo.
Eu corri atrás de um eu melhor pra gente ser feliz.
Me iludi com as fagulhas de segundos que o teu desespero me fez acreditar,
E você de repente me disse que tava louco, apaixonado por outra pessoa

Aaaaaaaaahhhh!

Mas não tem revolta não! Eu já sei o que fazer.
 Vou  rimar aqui até não poder,  até te expulsar de mim
Sou piegas, cafona, melodramática,
 Mas o que é o fim de um amor senão tudo isso misturado e eu um pouco de mais de tudo isso, enfim?

Sempre alguém me diz “esquece isso e segue em frente”
Mas o que fazer quando de repente a gente sente
 Uma pontada louca aguda dentro do peito que chega sem perguntar e te deixa fraco assim?

Mas não tem revolta não
 Esse rasgo um dia sara
E você não saberá
Que sozinha no meu quarto
Eu chorei por ti até não mais me aguentar


Tudo bem, não tem segredo não
É só viver o dia a dia
E quando isso passar
Vai voltar a alegria
E vou rir, eu sei, rir, mas rir assim, até me acabar!



...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Delicado
é todo amor inciado
e quando fim, 
ter cuidado
para a dor
que vem 
arrebatada
não ser
tão
maior que 
o amor
que se
vai
desnorteado

sexta-feira, 31 de agosto de 2012




Ele diz que esse som é triste
Mas eu digo que é o que me deixa bem

São notas que inspiram e trazem para o ambiente um pouco de paz

Aí eu paro, olho pra essa janela nova

(ainda vou me acostumar com ela)

Porque está mais longe do céu, apesar de ter um passarinho bem perto

Mas é que o céu é muito importante

E olhando pra ela, com um pedacinho de azul no canto esquerdo

Penso no quanto desviamos de certos caminhos que outrora eram tão certeiros

Tudo depende do ponto de vista

Dói em mim brigar com alguém para defender algo que acredito

Penso logo o quanto quero as coisas do meu jeito

E que isso pode ser resquício de uma infãncia mimada e protegida da  real realidade

Mas meu analista diz que defender algo é parte do crescimento

E que brigar, às vezes, é importante.

Mas se me faz sofrer é que aindo me afeto demais com as coisas

E logo  eu, tu, ele, que penso que sei um pouco do mundo

Não sei de nada

Toda hora levo um arrastão de sabedoria dos outros

Me surpreendendo comigo mesma

Pois parece que quanto mais envelheço, mais não sei nada

Ou quando era mais jovem, era mais sábia

E não quero congelar como muitos, que depois de uma certa idade

Não se interessam mais em crescer

Às vezes tenho certeza que a reclusão é a minha salvação

Tenho medo de isso aumentar e me desviar do mundo

Como a religião faz com muitas pessoas

Acho que tenho vocação para ser só dos outros

Porque quando sou de mim, não sei aonde segurar

Ou me deparo com tamanha insegurança e medo

Que entendo a alegria de estar fora de casa

Esse lugar que é cheio de espelhos imaginários.

Não vou apresentar solução para esse discurso

Vou deixar seguir com a  vida

Queria ser mais calma

Como as pessoas que vejo nas fotos virtuais

Mas o virtual também é falso

Por isso vou pisar na areia e olhar o mar

O eterno professor do movimento.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012


Então, eu cheguei aqui.

Um lar acolhedor.

Depois de tudo o que se passou.



São tantos erros que cometi.

Faz parte do crescer

Que bom é amadurecer



Escolhas certas são consequencias

Caminhos tortos que tracei

Experiencias que passei



Muito coisa para aprender

Já posso até dizer

O que eu tenho é porque errei e aprendi



Já sou aquilo que perdi

Também sou o que escolhi

E serei o que ainda não vivi.

quarta-feira, 20 de junho de 2012


Você foi uma fonte de inspiração e continua sendo, porque não acaba o que fica.

Você me ensinou a escutar e continua ensinando, porque as músicas ainda tocam no meu som.

Você me ensinou a chorar e ainda choro, porque foi embora.

Você me ensinou a sorrir e ainda sorrio, porque tenho memória

Você me ensinou a querer mais e ainda quero, porque consegui.



Às vezes me conecto com você, sem você saber. É quando quero te recriar.

 E a profundidade que você deixou, me faz te agradecer por tudo o que ficou.

Me faz pensar o quanto foi bom te amar.

Me faz amar o quanto foi bom ter você.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Decai o nível
D
  e
   c
    a
     i
o
nível
da
poesia.

Quando se tem tanta coisa pra falar, mas a ocupação
que ocupa a ação,
te faz  e  s  v  a  z  i  a  r ,
Não morra antes de morrer!

Viver é arricar.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Prostração

É como uma massa invisível pesada e densa,
que nasce na frente do meu corpo e me impede de qualquer passo adiante.
Cansada, acabo cedendo, não luto com a massa e deito na cama.

Pego um livro e solto-o, acabo ligando a televisão.
Lá dentro da caixa, só merda, me torno imbecil,
sofro, mas não faço nada. A massa continua presente, ela vence, não tenho forças
sofro, mas é só por dentro, não consigo nem chorar.


Sou um personagem dos contos de Kafka ou Murilo Rubião.
Deitada na cama, me sinto pequena e oprimida.
A massa invisível cresce, já não consigo levantar.
Sede, quero beber água.
Nem isso.
Virei barata.

A manhã começa, as horas passam.
É preciso trabalhar. Tem muita coisa a fazer, tá tudo se atropelando.
Não vou conseguir.
A massa cresce,
quero levantar,
virei um piolho,
quero beber água,
cada vez mais difícil,
a TV me apodrece,
minha alma tá indo indo embora,
virei bicho,
meu corpo sua,
virei lixo,
o telefone toca,
não atendo,
minhas mãos sumiram.
Ah, mas também não me amolem!


Sonho em ser bebê.
Um bebê rico de berço de ouro.
Me pegam no colo, me dão de mamá e me fazem carinho.
Não preciso pensar em nada.
Arroto sem ser julagada,
um bebê, isso sim.


Sou Bukovski na versão mulher.
Mas sou pior, porque nem bebo pra desculpar a porra da zona que faço.
Se eu fosse uma mulherzinha inha inha,
estaria agora no salão de beleza
esquecendo de tudo, lendo uma revista e falando foda-se.
Mas resolvi ser outra coisa
e também falo foda-se.
Mulherzinha é o caralho.
Odeio salão de beleza
e essa merda de cultura que cultua essa merda

Bom dia, segunda feira
Vou ficar aqui na cama
há há há
To perdendo tempo
Time is money?
Foda-se!


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

SAMBA DA IMPERFEIÇÃO


Eu tô com uma angústia no meu peito
Dizem que alguém ta me seguindo
Invado os templos sem respeito
Eu rezo pra quem não ta ouvindo

Eu sigo falhando pela vida
Sem medo de ser de outra corrente
Sou buda, sou padre, sou ferida
To longe, to perto, to ausente


REFRÃO
A morte me chega e eu  to cantando
A vida ta indo e eu faço arte
O mundo passou me visitando
Espalho meu som por toda parte 
Eu ando nas ruas talento
Tentando encontrar a minha história
Sou pedra, sou caco, sou tormento
Sou gente perdida na memória x3

____
Escrevi o meu nome na calçada
Delataram como pichação
Perturbei meus vizinhos na noitada
Fui destaque da televisão

Tentei libertar meus conhecidos
Falaram que eu to condenado
Fugi pra um lugar desconhecido
Deixei um poema inacabado
Deixei um poema inacaba...

REFRÃO
A morte me chega e eu to cantando
A vida ta indo e eu faço arte
O mundo passou me visitando
Espalho meu som por toda parte
Eu ando nas ruas talento
Tentando encontrar a minha história
Sou pedra, sou caco, sou tormento
Sou gente perdida na memória x3







segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Já andei tão longe e cheguei aqui


Como eu cheguei aqui? Pois tudo o que andei me fez parar tão perto de mim, e tão igual ao que já fui, ao que já fiz, ao que senti, ao que vivi.
Quando eu percebi eu já fui tão longe
e agora não posso voltar, porque voltar seria desistir de amar.

E o amor é o que pode me salvar.
É o que me sustenta não chão, o que me suspende no ar.


Já sou sua, já és meu. Isso não é posse, é poesia.
Por você eu já posso viver.

Agora já era. Tudo o que você mentir, eu vou acreditar.